Coronavírus: Por que o álcool 70% é o mais eficiente? - Tira o Jaleco

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02/05/2020

Coronavírus: Por que o álcool 70% é o mais eficiente?


Quimicamente falando, o "álcool" é uma substância orgânica composta por um grupo funcional hidroxila (-OH) que está ligada a um ou mais carbonos saturados. Abaixo, podemos observar que, dependendo da quantidade de carbonos presentes em uma molécula, o "álcool" recebe uma nomenclatura diferente:


Os álcoois mais conhecidos por nós são o etanol, o metanol e o isopropanol. Desses três álcoois, apenas o etanol (álcool etílico) e o isopropanol (álcool isopropílico) podem ser utilizados para desinfecção. A ação bactericida do metanol (álcool metílico) é muito pequena, por isso ele é raramente utilizado nos serviços de saúde, por exemplo.

Mas talvez agora você esteja se perguntando: qual a diferença entre o álcool de uso doméstico (álcool 46%), do álcool 70% e do álcool absoluto?

Bom, basicamente a diferença entre eles é a concentração de álcool presente em cada um. Por exemplo, o álcool 70% possui 70% de álcool e 30% de água.

Então pensando na concentração, por que o álcool 70% é mais eficiente que o álcool absoluto (puro)?

O álcool é capaz de desidratar a membrana celular externa de um micro-organismo (como bactéria ou um vírus, por exemplo) e penetrar no seu citoplasma, onde irá desnaturar e coagular suas proteínas e enzimas (uma vez que estas são responsáveis pelas atividades celulares vitais desse micro-organismo). A presença de água é fundamental para a atividade bactericida do álcool 70%, uma vez que ela retarda a volatilização do álcool, permitindo, por tanto, um maior tempo de contato. O resultado disso é a lise celular e morte do micro-organismo.


Mas se a presença de água é tão importante, porque o álcool comum de cozinha (46%) é ineficaz? Pois a concentração de água  é maior que a do álcool, fazendo com que este perca sua ação antimicrobiana. Mas para chegar a essa conclusão, diversos estudos foram realizados utilizando diferentes concentrações de álcool e testando sua eficácia em matar diversos tipos de micro-organismos (vou deixar os artigos linkados nas referências), e ao final pesquisadores demonstraram que a concentração de álcool a 70% é a mais eficaz.

O álcool absoluto (puro), por sua vez, volatiliza muito rapidamente em relação ao álcool 70%, e isso o torna incapaz de penetrar no interior do micro-organismo e, consequentemente, não consegue matá-lo.

Bactérias (estado vegetativo), fungos e vírus (incluindo vírus envelopados como o H1N1 e o SARS-CoV-2) são destruídos pela ação do álcool 70%. Esporos bacterianos, por sua vez, são resistentes ao álcool, sendo eliminados apenas através de processo de esterilização (como autoclavagem).

O CDC (Centers for Disease Control and Prevention) e o Ministério da Saúde recomendam a higiene das mãos com álcool em gel 70% em ambientes de assistência médica ou quando a lavagem das mãos com água e sabão não possa ser realizada no momento. Mas se houver sujidade visível nas mãos, a eficácia do álcool em gel é reduzida. Por isso é tão importante lavar as mãos (até a altura dos punhos) com frequência e por pelo menos 20 segundos.

Para a limpeza de superfícies e de objetos, opte pelo álcool 70% líquido (mas cuidado com a quantidade para não danificar certos objetos, como aparelhos eletrônicos, por exemplo).

Vale ressaltar que a ação bactericida só ocorre se tiver FRICÇÃO!!! Sim, é necessário que esfreguemos as mãos uma na outra por pelo menos 30 segundos, ou que esfreguemos a superfície a ser limpa com auxílio de um pano/papel! Apenas borrifar o álcool sem friccionar o local ou as mãos é sinônimo de eficácia reduzida e desperdício do produto!


REFERÊNCIAS

RUTALA, William Anthony; WEBER, David Jay. Guideline for disinfection and sterilization in healthcare facilities, 2008. (PDF)

CDC: Coronavirus Disease 2019 (COVID-19). Cleaning and Disinfection for Households. (link

CDC: Coronavirus Disease 2019 (COVID-19). Hand Hygiene Recommendations (link)

PAC: Why Is 70% Isopropyl Alcohol (IPA) a Better Disinfectant than 99% Isopropanol, and What Is IPA Used For? (link)

ROCHON-EDOUARD, Stéphanie et al. Comparative in vitro and in vivo study of nine alcohol-based handrubs. American journal of infection control, v. 32, n. 4, p. 200-204, 2004. (link)

Cartilha Coronavírus - Ministério da Saúde (PDF)


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