A Talassemia é uma doença de natureza genética e hereditária e,
assim como a anemia falciforme, é caracterizada pela presença de hemoglobinas
anormais devido a mutações nos genes
α,
β,
γ
ou δ
responsáveis pela síntese das cadeias das globinas.
A hemoglobina, cuja principal
função é transportar oxigênio para os tecidos, é formada por um grupamento heme
(que contém 4 anéis pirrólicos ligados entre si por um átomo de ferro) e uma
porção proteica (globina). A globina é constituída por quatro cadeias
polipeptídicas, alfa (α), beta (β), gama (γ) ou delta (δ), que
estão associadas duas a duas, formando três tipos de hemoglobinas:
- Hemoglobina A (HbA), formada
por duas cadeias α e duas cadeias β (α2β2);
- Hemoglobina A2 (HbA2),
formada por duas cadeias α e duas cadeias δ (α2 δ2);
- Hemoglobina fetal (HbF),
formada por duas cadeias α e duas cadeias γ (α2 γ2).
Em um indivíduo adulto, 95 a 98%
das hemácias são constituídas pela HbA, 1,5 a 3% pela HbA2 e 0 a 1%
pela HbF, sendo esta última predominante durante a gestação e substituída pela HbA
após o nascimento.
Em casos de hemoglobinopatias, quando
ocorre diminuição ou ausência de produção de uma ou mais cadeias de globinas
(defeito quantitativo), há o desencadeamento das talassemias. Existem várias
formas de talassemias como também aquelas associadas ao traço falciforme. Hoje iremos
estudar apenas as principais formas da talassemia: alfa e beta.
TALASSEMIA ALFA
A síntese das cadeias alfa é dependente de 4 genes α (α2α1/α2α1)
presentes no cromossomo 16.
Mutações nesses genes levam à formação da talassemia alfa. Existem quatro
possibilidades genéticas dessa doença, sendo elas:
- (α2-/α2α1):
neste caso, apenas um gene é afetado. O indivíduo, portanto, é um portador silencioso, ou seja, não
apresenta sintomas, não desenvolve a doenças e, por isso, não precisa de
tratamento.
- (α2-/α2-) ou (--/α2α1):
quando dois genes são afetados, há o desenvolvimento do que conhecemos por traço alfa talassêmico. O paciente
apresenta uma anemia leve, com diminuição do volume corpuscular médio (VCM) e da
hemoglobina corpuscular média (HCM), por isso há presença de hemácias
microcíticas e hipocrômicas, apesar da contagem de hemácias estar acima de 5,5x1012/L.
Como a eletroforese de hemoglobina pode apresentar-se normal, o diagnóstico é
realizado através da análise de DNA para a confirmação dessa condição genética.
- (α2-/--): a alteração em
3 genes α resulta na doença da hemoglobina
H (HbH), uma vez que há excesso de cadeias beta (β4) nas
hemácias desses pacientes (detectada por eletroforese) . Essa condição está entre
os casos mais graves de talassemia alfa, sendo que os portadores apresentam microcitose e hipocromia severas,
anemia hemolítica (uma vez que a HbH forma precipitados no interior das
hemácias, que são destruídas no baço), esplenomegalia e alterações esqueléticas.
Semelhante à talassemia beta intermediária, pacientes precisam ser tratados com
transfusões de sangue para o controle da anemia e diminuição das complicações.
- (--/--): a deleção dos quatro genes α
suprime por completo a formação da cadeia alfa e há um excesso de cadeias gama (γ4),
desenvolvendo a hemoglobina de Bart.
Esta condição é incompatível com a vida,
levando, então à morte do feto ainda no útero da mãe (hidropsia fetal).
TALASSEMIA BETA
A talassemia beta é ocasionada
por defeitos nos genes β (β/β) localizados no cromossomo
11, podendo levar à diminuição da produção da cadeia beta (β+) como também à sua
ausência total (β0). Esse tipo de talassemia é o mais comum,
e possuem três classificações: talassemia menor, talassemia maior e talassemia
intermediária.
A talassemia menor, também conhecida como traço beta talassêmico, é desenvolvida em indivíduos heterozigotos (β/β+
ou β/β0). Nela há uma diminuição de HbA e aumento de HbF e HbA2.
Esses indivíduos são assintomáticos, mas podem apresentar uma anemia leve, com
presença de hemácias microcíticas e hipocrômicas (VCM e HCM baixos), apesar da
alta contagem de hemácias (acima de 5,5x1012/L). Neste caso, não há
necessidade de tratamento.
Formas homozigóticas dessa doença (β+/β+
ou β0/β0) leva ao desenvolvimento da talassemia maior, conhecida também como doença de Cooley ou anemia
do Mediterrâneo. Nessa condição, há um excesso de cadeias alfa que irão
precipitar nas hemácias, levando a uma intensa hemólise. A severidade da anemia
aumenta quanto maior for o excesso dessas cadeias alfa. Como consequência,
pacientes portadores da talassemia maior podem apresentar hiper-hemólise,
esplenomegalia, palidez, fadiga, ossos da face proeminentes e desalinhamento
dos dentes, e necessitam de transfusões de sangue normalmente a cada 20 dias
para controlar a anemia e diminuir os riscos de complicações.
A talassemia beta intermediária pode ocasionar desde anemias leves
até as mais severas. Portadores dessa variação recebem transfusões de sague com
menos frequência dos portadores de talassemia maior, assemelhando-se com a
doença da hemoglobina H.
O diagnóstico das talassemias pode ser realizado por eletroforese de hemoglobina, mas principalmente por exames moleculares de análise de DNA. O hemograma, apesar de não conclusivo, também apresenta indicativos dessas doenças, como microcitose e hipocromia, anisocitose e poiquilocitose, podendo também apresentar hemácias em alvo (codócitos).
REFERÊNCIAS:
HOFFBRAND, A. V.. Fundamentos
em hematologia. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
LORENZI, T. F. Manual
de hematologia: propedêutica e clínica. 4. ed. Rio de Janeiro (RJ):
Guanabara Koogan, MEDSI, 2006.
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