Talassemia - Tira o Jaleco

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09/07/2018

Talassemia


A Talassemia é uma doença de natureza genética e hereditária e, assim como a anemia falciforme, é caracterizada pela presença de hemoglobinas anormais devido a mutações nos genes α, β, γ ou δ responsáveis pela síntese das cadeias das globinas.

A hemoglobina, cuja principal função é transportar oxigênio para os tecidos, é formada por um grupamento heme (que contém 4 anéis pirrólicos ligados entre si por um átomo de ferro) e uma porção proteica (globina). A globina é constituída por quatro cadeias polipeptídicas, alfa (α), beta (β), gama (γ) ou delta (δ), que estão associadas duas a duas, formando três tipos de hemoglobinas:

- Hemoglobina A (HbA), formada por duas cadeias α e duas cadeias β (α2β2);
- Hemoglobina A2 (HbA2), formada por duas cadeias α e duas cadeias δ (α2 δ2);
- Hemoglobina fetal (HbF), formada por duas cadeias α e duas cadeias γ (α2 γ2).

Em um indivíduo adulto, 95 a 98% das hemácias são constituídas pela HbA, 1,5 a 3% pela HbA2 e 0 a 1% pela HbF, sendo esta última predominante durante a gestação e substituída pela HbA após o nascimento.

Em casos de hemoglobinopatias, quando ocorre diminuição ou ausência de produção de uma ou mais cadeias de globinas (defeito quantitativo), há o desencadeamento das talassemias. Existem várias formas de talassemias como também aquelas associadas ao traço falciforme. Hoje iremos estudar apenas as principais formas da talassemia: alfa e beta.


TALASSEMIA ALFA

A síntese das cadeias alfa é dependente de 4 genes α (α2α12α1) presentes no cromossomo 16. Mutações nesses genes levam à formação da talassemia alfa. Existem quatro possibilidades genéticas dessa doença, sendo elas:

- (α2-/α2α1): neste caso, apenas um gene é afetado. O indivíduo, portanto, é um portador silencioso, ou seja, não apresenta sintomas, não desenvolve a doenças e, por isso, não precisa de tratamento.

- (α2-/α2-) ou (--/α2α1): quando dois genes são afetados, há o desenvolvimento do que conhecemos por traço alfa talassêmico. O paciente apresenta uma anemia leve, com diminuição do volume corpuscular médio (VCM) e da hemoglobina corpuscular média (HCM), por isso há presença de hemácias microcíticas e hipocrômicas, apesar da contagem de hemácias estar acima de 5,5x1012/L. Como a eletroforese de hemoglobina pode apresentar-se normal, o diagnóstico é realizado através da análise de DNA para a confirmação dessa condição genética.

- (α2-/--): a alteração em 3 genes α resulta na doença da hemoglobina H (HbH), uma vez que há excesso de cadeias beta (β4) nas hemácias desses pacientes (detectada por eletroforese) . Essa condição está entre os casos mais graves de talassemia alfa, sendo que os portadores apresentam microcitose e hipocromia severas, anemia hemolítica (uma vez que a HbH forma precipitados no interior das hemácias, que são destruídas no baço), esplenomegalia e alterações esqueléticas. Semelhante à talassemia beta intermediária, pacientes precisam ser tratados com transfusões de sangue para o controle da anemia e diminuição das complicações.

- (--/--): a deleção dos quatro genes α suprime por completo a formação da cadeia alfa e há um excesso de cadeias gama (γ4), desenvolvendo a hemoglobina de Bart. Esta condição é incompatível com a vida, levando, então à morte do feto ainda no útero da mãe (hidropsia fetal).


TALASSEMIA BETA        

A talassemia beta é ocasionada por defeitos nos genes β (β/β) localizados no cromossomo 11, podendo levar à diminuição da produção da cadeia beta (β+) como também à sua ausência total (β0). Esse tipo de talassemia é o mais comum, e possuem três classificações: talassemia menor, talassemia maior e talassemia intermediária.

A talassemia menor, também conhecida como traço beta talassêmico, é desenvolvida em indivíduos heterozigotos (β/β+ ou β/β0). Nela há uma diminuição de HbA e aumento de HbF e HbA2. Esses indivíduos são assintomáticos, mas podem apresentar uma anemia leve, com presença de hemácias microcíticas e hipocrômicas (VCM e HCM baixos), apesar da alta contagem de hemácias (acima de 5,5x1012/L). Neste caso, não há necessidade de tratamento.

Formas homozigóticas dessa doença (β++ ou β00) leva ao desenvolvimento da talassemia maior, conhecida também como doença de Cooley ou anemia do Mediterrâneo. Nessa condição, há um excesso de cadeias alfa que irão precipitar nas hemácias, levando a uma intensa hemólise. A severidade da anemia aumenta quanto maior for o excesso dessas cadeias alfa. Como consequência, pacientes portadores da talassemia maior podem apresentar hiper-hemólise, esplenomegalia, palidez, fadiga, ossos da face proeminentes e desalinhamento dos dentes, e necessitam de transfusões de sangue normalmente a cada 20 dias para controlar a anemia e diminuir os riscos de complicações.

A talassemia beta intermediária pode ocasionar desde anemias leves até as mais severas. Portadores dessa variação recebem transfusões de sague com menos frequência dos portadores de talassemia maior, assemelhando-se com a doença da hemoglobina H.


O diagnóstico das talassemias pode ser realizado por eletroforese de hemoglobina, mas principalmente por exames moleculares de análise de DNA. O hemograma, apesar de não conclusivo, também apresenta indicativos dessas doenças, como microcitose e hipocromia, anisocitose e poiquilocitose, podendo também apresentar hemácias em alvo (codócitos).


REFERÊNCIAS:

HOFFBRAND, A. V.. Fundamentos em hematologia. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. 
LORENZI, T. F. Manual de hematologia: propedêutica e clínica. 4. ed. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan, MEDSI, 2006.
               

                

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